(clique na Amy)
Rosana Hermann
Eu gostava da Amy. Ainda estou chocada com a morte da cantora.
Claro, todo mundo imaginava que ela não viveria muito se a dependência química
não fosse tratada. Mas olha, o problema das drogas é mais complexo do que
parece. A pessoa tem uma tendência, um desequilíbrio químico, uma condição
mental. Não é simplesmente o caso de dizer "ela procurou isso" e
virar as costas. Tem gente que sempre culpa a vítima, impressionante. Ela tinha
um impulso destrutivo, muito gente tem. É doença. Não faz parte do projeto natural
do ser humano nascer e autodestruir-se, faz? Portanto, ela tinha uma
condição que a levava a isso. Um bug,
uma falha, uma doença.
Era tudo tão visível, o
talento, a doença. Na mesma proporção, imensos, gigantescos. E uma vida tão
breve, com tanto sofrimento.
Quando fui ao show dela em
São Paulo, no Anhembi, vi gente péssima na plateia, pedindo pra ela beber,
aplaudindo quando ela tomava um gole. As mesmas pessoas que ESTIMULAM o doente,
o viciado, a consumir o que lhe mata vai apontar dedos na cara e dizer que "foi a escolha dela".
Não
escolhemos o que somos. Nem os talentos, nem as fraquezas e doenças. A gente
tem que aprender a lidar, a controlar, a se tratar. Mas se tudo fosse tão
simples, só questão de consciência e opção, então por que comemos comida que
nos faz mal? Por que tanta gente quer emagrecer e não consegue parar de ingerir
gordura, sal, açúcar, porcaria? Nunca aconteceu com você? Você decide que
vai fazer uma coisa e não CONSEGUE seguir aquilo que você mesmo decidiu? Quer
levantar e sente preguiça? É só questão de "força de vontade?" Claro
que não. E mesmo a falta de força de vontade não É CULPA da pessoa.
Essas coisas absurdas como "gordo é sem-vergonha porque come muito", de "homossexual que fez esta opção"
(a orientação sexual não é escolha e evidentemente não é uma doença, por
favor), de drogados que "escolheram
esse caminho", não
tem sentido. Todos
temos problemas, questões, condições, tanto faz o termo. Precisamos de ajuda e tratamento
quando estamos doentes. Precisamos de respeito sempre. E o primeiro passo pra
respeitar o problema do outro é reconhecer o nosso. Mas, né, tem que ser muito
bem resolvido pra admitir sua verdade.
Eu vou chorar a morte de
Amy. Como eu choraria qualquer morte prematura, qualquer vida de sofrimento. Eu
era fã.
Ainda sou
Rosana Hermann é jornalista da Rede
Record
Caricatura: João de Deus Netto