Por FERNANDO DO VALLE
"Eu
nunca fui um escritor profissional. Morreria de fome se fosse viver dos meus
livros. Teria de acabar fazendo milhares de concessões. Mas camelô, ah!, isso
eu sou bom; vendo meus livros, dou autógrafos e prometo morrer logo para valorizá-los" (Plínio Marcos)
No comecinho dos anos 90,
encontrei algumas vezes um barrigudo barbado vendendo seus livros em frente aos
teatros do Bixiga. Intrigado e com vontade de conversar com o camelô literário
de boina, me arrependo de ter ficado na minha. Naquela época, confesso que
sabia pouco sobre ele. Algum tempo depois de perder a chance de comprar os
livros de Plínio Marcos de suas mãos, fui caçando suas peças teatrais em sebos
e, em catarse, me transportava de meu mundo classe média para a fodida realidade
dos excluídos, maltrapilhos e presos.
Plínio não vendeu somente
seus livros, para sobreviver, fez grana em troca de cigarro americano sem selo,
maconha e bugigangas estrangeiras arranjadas pelos contrabandistas de Santos,
sua cidade natal. Era o que dava para fazer para superar tempos que “estava
duro como côco”, segundo o próprio contou em entrevista à revista Realidade em
1968.
Nascido em Santos e filho
de uma dona de casa e um bancário, Plínio Marcos foi estivador, tentou a sorte
como jogador de futebol no juvenil da Portuguesa Santista e arrancou risadas
como o palhaço Frajola no circo. Plínio Marcos cursou apenas o primário e teve
4 irmãos e uma irmã.

A primeira peça teatral
escrita por ele foi Barrela, em 1958, baseada em uma história real
de um conhecido preso e violentado por vários outros detentos. Quando
libertado, o amigo que virou personagem perseguiu e matou um por um de seus
algozes. Ele nomeou a peça de barrela (gíria de ‘curra’).
“Sou o
analfabeto mais premiado do País, no momento. Aliás, quando querem me ofender
me chamam de analfabeto, quando querem me badalar dizem que sou gênio. O que
sou mesmo é um cara de sorte. Tenho boa estrela e sei me virar. Aceito a regra
do jogo na porcaria da vida. Ninguém me passa pra trás e se bobearem passo na
frente dos outros, sou malandro, no duro” (em entrevista à revista
Realidade, em 1968).
Plínio escrevia rápido.
Uma de suas peças mais conhecidas, “Dois Perdidos em uma Noite Suja”, foi
escrita em 24 horas. Na época, Plínio trabalhava como técnico da TV TUPI e com
a ajuda de amigos conseguiu montar em 1966 na Galeria Metrópole, em São Paulo,
considerada a primeira montagem profissional de um texto de sua autoria.
A peça Navalha
da Carne (escrita em
4 dias) enfrentou problemas com a censura do regime militar. A classe teatral
se mobilizou pela liberação da montagem, que consegue estrear em 1967. A atriz
Cacilda Becker reunia artistas e intelectuais em seu duplex na Paulista e foi
ali que nasceu a luta contra a censura da peça.

Plínio Marcos com a atriz Tônia Carrero (fonte: site oficial de Plínio Marcos)
No Rio de Janeiro,
militares foram enviados pelo governo ao Teatro Opinião para impedir a
apresentação. A atriz Tônia Carrero ofereceu uma casa vazia de sua propriedade
no morro de Santa Teresa para o espetáculo, que lotou. Com seu prestígio, Tônia
conseguiu liberar a peça e passou a atuar na montagem que passou a ser dirigida
por Fauzi Arap.
A partir daí, o trabalho
de Plínio passou a ser visado pela censura e enfrentou problemas seguidos para
ser liberado. Em 1968, ele foi preso em 1968 e liberado por influência de
Cassiano Gabus Mendes, diretor da TV Tupi à época. Em 1969, é novamente preso,
agora em Santos e depois transferido para o DOPS (Departamento de Ordem
Política e Social) em São Paulo. Foi libertado sob a tutela da atriz Maria
Della Costa.

Plínio Marcos com o músico Adoniran Barbosa (fonte: site oficial de Plínio Marcos)
Plínio também atuou na
imprensa. Foi cronista do jornal Última Hora, repórter da revista Realidade e
colunista da Revista Caros Amigos, entre outras colaborações. Em 1996, o
jornalista Ricardo Kotscho, diretor da rede CNT de televisão, o convidou para
tecer comentários no telejornal. Segundo Plínio, sua demissão foi motivada às
críticas ao ministro das comunicações Sérgio Motta, que fez ilações sobre a
sexualidade da candidata à prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina.
Em 1985, Plínio tinha
lançado o texto Madame Blavatsky, sobre a teóloga e mística ucraniana Helena
Blavatsky e escreveu no programa da peça:
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