sábado, 28 de maio de 2011

A OAB DE RAIMUNDO FAORO



RAYMUNDO FAORO, NOSSO AMIGO
Maria Victoria Benevides 

Modéstia à parte, Raymundo Faoro foi um dos nossos. O consagrado autor de Os Donos do Poder era, sim, “da casa”: mestre, crítico, conselheiro, colaborador, amigo de todos nós, os pais (e mães!) fundadores e os continuadores do CEDEC.
Pouco presente em pessoa, era uma referência constante; o grande historiador, jurista e sociólogo, mas também o publicista notável, que sempre acompanhou, com sua pena certeira e suas intervenções públicas, a vida política da nação. É bem conhecida sua brilhante atuação quando presidente do Conselho Federal da OAB (1977-1979). Aliás, a OAB adquiriu um prestígio extraordinário, como fonte e voz da sociedade civil, graças a ele. Tornou-se um dos principais representantes dos que lutaram contra a ditadura, sendo
interlocutor dos políticos e dos militares, que nele reconheceram um adversário lúcido, corajoso e livre de qualquer projeto político pessoal. Sempre ficou claro, para todos que o conheceram, sua completa falta de ambição para cargos e honrarias. É importante destacar este dado de sua personalidade, pois não foram poucos os que atribuíram ao seu dinamismo à frente da OAB objetivos políticos menos nobres, como ser nomeado ministro da Justiça ou membro do STF num futuro governo democrático. Os fatos provam que ele nada quis, nem abandonou suas trincheiras de luta contra os arrivistas da “transição transada”.
Quando Luiz Inácio da Silva foi à sua casa convidá-lo para ser vice (campanha de 1989), Raymundo recebeu-o de braços abertos e adega fidalga (gostava muito do líder petista, com quem manteve relações de mútua admiração e amizade até o fim). Mas ponderou: “Lula, sou um homem preguiçoso e amante das boas coisas da vida. Aceitaria, de bom grado, uma embaixada em Viena...desde que vitalícia”.

Apesar de participar, junto com Mino Carta, seu fraternal amigo, das revistas  IstoÉ/Senhor, Carta Capital e do excelente e efêmero  Jornal daRepública, era pouco presente em São Paulo. Detestava deixar o Rio de Janeiro, onde morava – com fino gosto (e entre montanhas de livros e vídeos de teatro) –, debaixo do Cristo Redentor, com quem, dizia, muitas vezes “acertava as contas”, o coração pesado de ira et studio. O bairro chama-se Cosme Velho, escolhido como se Raymundo Faoro quisesse também os ares bucólicos de seu querido Machado, sobre o qual escreveu a obra prima Machado de Assis: A Pirâmide e o Trapézio (livro pouco lembrado, o que é uma lástima). Aliás, como o velho bruxo, Raymundo tinha o horror de ser “medalhão”. Aceitava nossos convites, no CEDEC ou na USP, mas avisava: estão proibidas as louvações.



Maria Victoria Benevides é socióloga e professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)

FAORO ANALISA A 
SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA


RAIMUNDO FAORO  HISTORIADOR 



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